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Com mais de 5,5 bilhões de pessoas online – e quase todas elas nas redes sociais – os espaços digitais se tornaram centrais para como aprendemos e nos conectamos. Mas, além dos seus benefícios, a internet também está sendo usada para disseminar ódio, abuso e misoginia.
Uma das áreas em crescimento nesse mundo digital é a chamada “machosfera”: uma rede solta de comunidades que afirmam tratar das dificuldades enfrentadas pelos homens – como namoro, boa forma física ou paternidade – mas que frequentemente promovem conselhos e atitudes nocivos. Como destaca o relatório do Secretário-Geral da ONU sobre violência contra mulheres e meninas, esses grupos têm em comum a oposição ao feminismo e a falsa ideia de que os homens são “vítimas” do atual cenário social e político.
Esse conteúdo também está ganhando força. Segundo a Fundação Movember, uma importante organização de saúde masculina e parceira da ONU Mulheres, dois terços dos jovens homens consomem regularmente conteúdo de influenciadores da masculinidade na internet. Especialistas têm observado que a popularidade da linguagem extremista na machosfera não apenas normaliza a violência contra mulheres e meninas, como também tem vínculos crescentes com a radicalização e ideologias extremistas.
A ONU Mulheres e seus parceiros estão agindo para combater a misoginia online e o abuso digital. Por meio de pesquisa, incidência política, apoio a sobreviventes, programas e campanhas que enfrentam a masculinidade tóxica, estamos trabalhando para tornar os espaços digitais mais seguros e igualitários para todas as pessoas.
O que é a machosfera?
A machosfera é um termo guarda-chuva para comunidades online que têm promovido definições cada vez mais estreitas e agressivas do que significa ser homem – além de sustentar a falsa narrativa de que o feminismo e a igualdade de gênero ocorreram às custas dos direitos dos homens. Essas comunidades promovem a ideia de que o valor masculino está ligado ao controle emocional, riqueza material, aparência física e domínio – especialmente sobre as mulheres.
A machosfera mira públicos masculinos em redes sociais, podcasts, comunidades de games, aplicativos de namoro e praticamente todos os espaços digitais. Muitos homens entram em contato com esse conteúdo ao buscar fóruns para falar abertamente sobre questões masculinas. Embora o conteúdo pareça voltado para o autodesenvolvimento masculino, muitos desses grupos promovem comportamentos nocivos, como ensinar meninos e homens a se fortalecerem às custas dos outros.
Por que a machosfera atrai jovens homens na internet
O conteúdo extremo da machosfera atrai especialmente jovens que se sentem isolados. De acordo com o relatório “State of American Men 2023”, do grupo de pesquisa Equimundo, parceiro da ONU Mulheres, dois terços dos jovens homens dizem que “ninguém realmente me conhece”.
É natural buscar comunidade nos espaços digitais. Muitas pessoas constroem sua identidade, cultivam interesses e encontram afinidades online. Jovens homens muitas vezes descobrem influenciadores da machosfera ao procurar dicas sobre boa forma, namoro ou criptomoedas. Na pesquisa da Fundação Movember, muitos afirmaram que o conteúdo era “motivador” ou “divertido”.
Os autoproclamados coaches de estilo de vida da machosfera conquistam os jovens alegando ensinar responsabilidade pessoal. Mas, ironicamente, em vez de incentivar a autoexploração necessária para enfrentar os verdadeiros desafios masculinos, eles sugerem que os homens são vítimas de uma misandria – ou seja, preconceito contra os homens.
O relatório do Secretário-Geral da ONU aponta que a expansão da machosfera coincide com um conservadorismo crescente entre jovens homens, que passam a ver os esforços pela igualdade de gênero como formas de discriminação contra os homens. Em um estudo da ONU Mulheres e da Unstereotype Alliance, homens mais jovens mostraram-se mais propensos do que homens mais velhos a sustentar visões estereotipadas sobre os papéis de gênero.
Ideologias da machosfera: como ela retrata as mulheres
Embora os grupos da machosfera não compartilhem todos as mesmas crenças, muitos estão unidos por sua misoginia – o preconceito e ressentimento contra mulheres e meninas. Em muitos aspectos, a machosfera é descendente de uma longa tradição de movimentos antifeministas.
Esses grupos propagam mitos, pseudociência e mentiras baseadas em gênero:
Involuntary celibates (incels): acreditam que homens têm “direito” ao sexo e que as mulheres os privam disso propositalmente. A cultura extremista incel promove estupro e agressões e mistura outras ideologias, como racismo e homofobia. Incels já foram associados a atentados violentos em massa.
Ativistas dos Direitos dos Homens (MRAs): usam uma linguagem mais acadêmica para afirmar que o feminismo e os direitos das mulheres – ao voto, à educação, a cargos de liderança – prejudicam os homens. Alegam que a sociedade é ginocêntrica, ou seja, dominada por interesses femininos.
Pick up artists (PUAs): ensinam a coagir mulheres para fazer sexo e ridicularizam o conceito de consentimento sexual.
Movimento MGTOW (Homens Seguindo Seu Próprio Caminho): sustenta que a sociedade está contra os homens e que a melhor opção é evitar as mulheres e até a própria sociedade.
Outros discursos de ódio de gênero comuns na machosfera incluem:
Ideologia red pill (ou ser “redpillado”): significa “acordar” para a realidade de que o mundo favorece as mulheres em detrimento dos homens. Em referência ao filme Matrix, sugere que quem discorda tomou a pílula azul.
AWALT: sigla de “All women are like that” (“todas as mulheres são assim”), usada para estereotipar comportamentos femininos.
Femoids ou FHOs: significa “organismo humanóide feminino”, um termo ofensivo que sugere que mulheres são inferiores aos homens – e até mesmo à condição humana.
Hypergamous: termo usado pejorativamente para descrever mulheres que só se interessam por homens bonitos e bem-sucedidos financeiramente.
Matéria Completa- https://www.onumulheres.org.br/noticias/o-que-e-a-machosfera-e-por-que-devemos-nos-preocupar/